O que dizer de um bairro que respira sentimento de comunidade e aposta na criatividade para conectar pessoas e ideias?
A maior evidência da transformação de Joanesburgo está em Maboneng, símbolo de inspiração no mais audaz bairro da cidade. É o distrito que atrai cada vez mais projetos inovadores num ambiente urbano que promove a integração e se revela, assim, cada vez mais atrativo para as pessoas viverem.
Maboneng oferece inúmeras oportunidades de entretenimento, incluindo lojas de autor e galerias de arte. Dispõe de restaurantes e bares sofisticados e tradicionais e até tem uma obra de arte emblemática do português Vhils, entre muita street art.
Por estas paragens há sempre algo a acontecer, mesmo que chova, como é o caso. Estou num bar com a lareira mais estranha que já vi (repararam na foto?) e um simpático residente que não a larga, mal o frio aperta: sim, quem pensa que as baixas temperaturas não afetam África é porque nunca visitou este fantástico Continente.
“Quando chove ou tenho frio, não há melhor lugar no Mundo para se estar. Sempre com uma agradável leitura. Sente-se para dois dedos de conversa…”, atira-me Eric, quando lhe peço permissão para uma foto. Agradeço. E faço-lhe a vontade…
Nas ruas logo se percebe que estamos num bairro diferente, distinto. Não há muito trânsito, mas nem por isso podemos esperar uma condução que acautele a segurança de peões imprudentes. Arrisquei duas vezes e em ambas esteve para correr mal. Aqui não se trava para deixar passar quem não cumpre as regras. Fica a lição. Esta é a única ‘insegurança’ que encontro em Maboneng.
Um velho camião plantado no passeio é uma bela promessa do que vou encontrar. Um caricato bar que hoje está fechado. Uma pena, contudo o clima também não me permitiria usufruir da sua esplanada.
Por aqui há muito o que fazer e, depois de esperar que o céu despeje toda a sua ira, em intenso aguaceiro, começo a explorar alguns dos pontos mais icónicos do bairro, sendo que os meus olhos não se desviam dos inúmeros grafitti que lhe dão um colorido e personalidade tão distintivos.
Yvone Chaca Chaca é uma conhecida cantora, compositora e atriz. Para quem não sabe, é igualmente humanitária, empreendedora e professora! Não admira que tenha sido a escolha de Vhils para a obra de arte que o destaca na África do Sul. No alto de uma parede de frente para uma livraria na qual frases de famosos estão replicadas por todo o lado.
Protejo-me aqui da intempérie e aproveito para comprar um livro sobre a filosofia UBUNTU, nascida precisamente na África do Sul, e ligada igualmente à história da luta contra o Apartheid. Inspirou Nelson Mandela na promoção de uma política de reconciliação nacional. Bem antes, em 1944, quando criou o ANC, já estava presente no seu manifesto: “Ao contrário do homem branco, o africano quer o universo como um todo orgânico que tende à harmonia e no qual as partes individuais existem somente como aspetos da unidade universal”.
Amainou. É tempo de voltar à exploração. Uns metros depois, algo que nunca tinha visto em lado algum: um prédio feito de… contentores. Encontrar habitação acessível é também um grande exercício de criatividade. O que já foi uma oficina de carros transformou-se e em 2017 tornou-se num dos edifícios mais icónicos da cidade. O primeiro do género na África do Sul.
A chuva não dá grandes tréguas. Volta a cair abundantemente e, com isso, cria uma série de autênticos lagos, que tornam difícil a circulação, sobretudo para os peões.
Ainda bem que não é domingo, já que o Market On Main atrai multidões entre turistas e habitantes dos subúrbios, onde se inclui o bem conhecido Soweto, a uns 15 quilómetros e onde vivem cerca de quatro milhões de pessoas. Está localizado num armazém construído por volta de 1900 e tem estúdios para artistas, lojas e galerias.
Há uma altura em que se torna mesmo impraticável continuar e a rua até é cortada devido ao excesso de água: há um funcionário da autarquia que anda com uma espécie de engaço a retirar lixo das condutas de água, para que estas possam cumprir com a sua função.
Continuo a perder-me até que a fome me leva a um dos vários restaurantes vanguardistas de Maboneng, no qual me debaterei com uma deliciosa espetada mista de peixe e marisco, em dose com uma robustez típica da África do Sul.
Já vos disse que em 2018 a revista Forbes considerou Maboneng como um dos 12 bairros mais ‘cool’ do Mundo?
“Uma área proibida até ao final do Apartheid, em 1994, desde então transformou-se numa zona urbana animada onde a arte e a culinária florescem”, justificou.
Como é bom estar num lugar que evoluiu para um centro colaborativo de cultura, negócios e estilo de vida enquanto promove uma sensação de união urbana. Maboneng, uma visão transformada em realidade.
*** BORNFREEE viaja a convite da Embaixada da África do Sul em Portugal ***
18 Comments
Eric muito maravilhoso e que lareira diferente, parece um forno industrial! Eu tenho uma amiga que ama a africa do sul, mas acho q ela nao conhece essa regiao. Já mandei para ela o link! E eu não sei quando irei á Maboneng, mas quando eu visitar Joanesburgo com certeza vai estar no meu roteiro.
Camila, que seja mesmo a tua PRIORIDADE em Joanesburgo, tal como uma inevitável visita ao famoso e renovado Soweto 😉
Que descoberta mais inusitada e colorida. Uma vez em Joanesburgo, teria que incluir uma visita à Maboneng, um passeio pelas diversas caras da África do Sul.
Fabíola, e esta “cara” é mesmo a mais bela e entusiasmante de Joanesburgo.
Que bairro incrível em Johanesburgo. Adorei as dicas e fiquei louca pra conhecer
Suriàn, é mesmo um bairro INCRÍVEL 🙂
Já me apaixonei pelo colorido do street art, já quero incluir no meu roteiro.
Deisy, sou também um (verdadeiro) amante de street-art… aconselho-te a não perder :)))
Dica anotada sobre Maboneng. Adoro o trabalho do Vilhs e esse ambiente multicultural que busca a arte como fator de atração.
Foi uma viagem e tanto
Até breve, amigo
Beijinho
Ruthia, o Vihils tem um trabalho incrível… e deixar AQUI a sua marca torna Maboneng um lugar ainda mais especial. Ao mesmo tempo, para nós, portugueses, sentimos que fazemos parte da transformação deste fantástico bairro…
Muito bom seu texto, Tenho muita vontade de conhecer a África do Sul, e este bairro parece muito interessante, adoro esta arte de rua. Obrigada por compartilhar.
Alessandra de Lima… e há muita mais arte de rua para explorar… apetecia-me não ir embora :))) Não quero saber de chuva e foi sempre a fotografar… 😉
Adoro arte de rua e gostei muito de conhecer Maboneng em Joanesburgo. Um prato cheio para quem gosta de fotografia!
Lidiane, agora com o covid-19, tenho ainda mais saudades dos tempos passados na África do Sul…
Que maravilhoso esse bairro de Johanesburgo! Já inclui no meu roteiro de viagem por lá. Obrigada pelo post
Excelente opção, Marcela 😉
Adorei a dica de visita em Joanesburgo! Adoro lugares coloridos assim, cheio de grafites! Conheci a África do Sul já, mas Joanesburgo foi só o aeroporto mesmo! Vendo seus posts dá mais vontade de voltar!
Fernanda Scafi, tem mesmo de voltar!! :)) Maboneng vale mesmo uma visita..