Talvez fosse verdade, como afirmava a minha mãe, que cada um de nós tem a sua cota predilecta na montanha, uma paisagem que lhe agrada mais e onde se sente bem.
A sua era o bosque dos 1500 metros, de abetos e larícios, à sombra dos quais crescem o mirtilo, o zimbro e o rodondendro e se escondem os cabritos-monteses. Eu era mais atraído pela montanha que vem a seguir: pradaria alpina, torrentes, turfeiras, ervas de altitude, animais no pasto. Mais acima a vegetação desaparece, a neve cobre tudo até ao começo do verão e a cor prevalecente é o cinzento da rocha, com veios de quartzo e tendo incrustado o amarelo dos líquenes. Ali começava o mundo do meu pai. Depois de três horas de caminho, os prados e os bosques davam lugar aos pedregais, aos pequenos lagos ocultos nas bacias glaciares, aos canais abetos pelas avalanches, às nascentes de água gelada. A montanha transformava-se num lugar mais áspero, inóspito e puro: lá em cima ele ficava feliz. Rejuvenescia, talvez regressando a outras montanhas e a outros tempos. Mesmo o seu passo parecia ficar mais leve e reencontrar uma agilidade perdida.
Paolo Cognetti, As Oito Montanhas
4 Comments
Ando precisando de montanha – e olhe que não faz muito tempo que voltei de uma viagem entre elas. Não sei se tenho minha cota de montanha, mas dentre as que conheci as Dolomitas sao as que mais me trazem suspiros de saudade e admiração. Lá em cima eu ficava feliz…
Um dos mais belos lugares do planeta… 🙂
As montanhas da Itália no norte são lindas paissagens, essas 8 montanhas de Dolomiti nunca tinha ouvido falar, parecer ser bonitas iguais.
Soberbas, Christian. Soberbas.. 🙂