Segue-me

SUDÃO: Jebel Barkal, poltrona para milenar Mundo UNESCO

SUDÃO: Jebel Barkal, poltrona para milenar Mundo UNESCO

No Sudão há um rochedo que nos torna ‘senhores’ do Mundo!

A montanha é imponente, mas não infinita. À distância, quase sentimos que a podemos abraçar. Quase… Subir ao topo não é missão fácil e, na realidade, nem todos o conseguem. Ainda bem que, julgando o contrário, que era somente uma questão de ritmo, opto pelo caminho mais difícil: decido galgar pela zona mais ‘suave’, uma íngreme duna de areia. Erro crasso. Mais valia ziguezaguear e ‘escalar’ pela sólida rocha, como me alertaria, posteriormente, um local. Paciência. O enorme esforço – parava, intensamente ofegante, a cada dois metros de custoso avanço incautamente desprovido de água e proteção para o sol e calor – apenas serviria para intensificar a fantástica sensação de conquistar o fabuloso Jebel Barkal, de onde juraria quase se pode avistar todo o planeta. Quase…

Este ‘rochedo’, plantado em imensa planície a perder de vista, ao lado de uma acentuada curva do rio Nilo, na região Núbia, tem desmedido valor histórico e arqueológico, reconhecido pela UNESCO em 2003 quando a elevou a Património Mundial. A par das não muito distantes cidades históricas de Meroé e Napata.

A montanha, que é plana no topo, tem ‘parcos’ 98 metros de altura, mas o esforço que a subida me exige – o meu bom amigo Bill Sorridente, que tem vertigens, senta-se já perto do cume, ficando simpeslmente a apreciar o arrebatador cenário, sem a preocupação de chegar à ‘meta’ – transporta-me a alguns desafios bem estimulantes vividos na Patagónia argentina/chilena. Na verdade Jebel Barkal é bem autoritária, um dos motivos pelos quais era utilizada como um ponto de referência pelos mercadores da importante rota entre a África central, a Arábia e o Egito, até porque aqui era dos pontos onde era mais fácil atravessar o grande Nilo.

Jebel Barkal foi o limite meridional do império do faraó egípcio Tutmés III (1450 AC). Estamos nas proximidades de Napata que viria a ser a capital do Reino de Cuche, que chegou a dominar o Egito (720 a 660 AC), a sua 25.ª dinastia.

Em torno de Jebel Barkal encontramos ruínas – em elevado estado de degradação – de 13 templos e três palácios, que foram descritos pela primeira vez por exploradores europeus na década de 1820. Os templos maiores, como o de Amon, mesmo no sopé da montanha, continuam a ser considerados sagrados pela população local.

Estamos nas imediações de Karima, que serve de base para explorarmos a antiga cidade de Napata, com história bem atribulada, bem como as pirâmides de El Kurru (um dos locais de enterro da família real que incluía, também, túmulos de cavalos) e Nuri, às quais chegaremos de táxi por escassos euros.

Um aperto no peito pelo facto da pobreza do país – e a escassez de turismo, que poderia potenciar outro cuidado do património – não permitir que a conservação deste riquíssimo legado seja uma prioridade. A erosão do tempo está a levar-nos, definitivamente, importantes símbolos de gloriosa antiguidade… Dada a míngua de recursos, os sudaneses não se coibiram, um pouco por todo o lado, de usar pedra das pirâmides para construir as suas próprias casas.

Mas agora não é a narrativa de glorioso passado que me importa. Estou em JEBEL BARKAL! Apenas me quero perder nestas vistas sem limites de horizonte. Não há proa de Titanic que nos torne tão reis deste Mundo. De um lado, vasto palmeiral que nos arrasta o olhar até ao Nilo. Na base, o templo de Amon. Na mesma direção, uma branca mesquita. E uns quantos humanos-que-mais-parecem-formigas que pacientemente se movem na tela…

No extremo oposto, as pirâmides. Longe da imponência das que conhecemos no Egito, não fossem mais antigas. De cá de cima, sentado em agreste rocha, tenho dois jipes como referência de escala de um cenário que é filme de ficção científica. E o sol está a pôr-se…

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on pinterest
Pinterest

Explore mais

24 Comments

    1. Rui Batista

      Francisco, simplesmente, imperdível 🙂

  1. Pedro Henriques

    Não conhecia o Jbel Barkal mas confesso que fiquei impressionado pela opulência do monumento. Imagino a emoção dos exploradores europeus quando descobriram essas ruínas há praticamente 200 anos! <em que condições foste visitar o rochedo Rui? Alugaste carro ou foste nalguma cena organizada? Abraço!

    1. Rui Batista

      Os exploradores dos últimos 200 anos tiveram muitas descobertas para nos deslumbrar 🙂 Pedro, Jebel Barkal fica a 2/3 quilómetros de Karima, pelo que até a pé lá podes chegar. Subir ao ‘rochedo’ – perceber a melhor opção e avançar – é que é desafiante, pois não é fácil (a minha opção, decididamente, não foi). No Sudão andei sempre em transportes locais, bastante eficientes e, normalmente, com “boas” estradas. Abraço!

  2. Marcia Picorallo

    Rui, sempre nos levando a lugares maravilhosos e pouco conhecidos. É uma pena mesmo alguns lugares não serem explorados pelo turismo para gerar receita para sua conservação, mas muitas vezes há exploração e não há cuidados. Melhor deixar como está?

    1. Rui Batista

      Marcia, para mim, enquanto visitante, bem melhor estar com está 🙂 Genuíno. Ainda assim, turismo, moderado, seria ajuda muito importante para recuperar estes lugares históricos, enquanto se estimulava a economia local. Boas viagens!

  3. Juliana Torres

    Que lugar incrível, Rui!
    Eu vi muito no Peru, principalmente nas cidades de Cusco e região, casas que foram construìdas com pedras de algum templo ou muros de fortaleza. Perguntando a uma guia da cidade, ela disse compreender a situação: eles não estavam pensavam na destruição de um patrimônio, mas na construção de um abrigo! Deve ter sido o mesmo motivo para os sudaneses usarem pedra das pirâmides para construir as suas próprias casas.

    1. Rui Batista

      É isso mesmo, Juliana. Em Guimarães, Portugal, a minha cidade Natal, o castelo, que deu inicio a Portugal, também esteve para ser desmantelado há cerca de 100 anos, pelos mesmos motivos. Ainda bem que esse projeto não avançou. Saibamos nós ir preservando o património…

  4. sabrina kelly

    Que visual em?! Nunca imaginei visitar o Sudão acredita? O mundo é tão grande que as vezes a gente fica preso as grandes capitais da Europa ou até mesmo locais mais frequentados como o Marrocos. Definitivamente adorei as dicas.

    Parabéns.

    1. Rui Batista

      Sabrina, há TANTOOOO Mundo fantástico para explorar… o Sudão não é fácil para viajar, mas, seguramente, um país muito estimulante com gente fantástica!

  5. Analuiza

    Eu também me perderia facilmente nestas paisagens, histórias passadas, presentes, no que foi, no que podia ser…

    1. Rui Batista

      Analuiza, confesso que me deu especial prazer ‘perder-me’ no Sudão 🙂

  6. Ana

    Como sempre, um encantador relato, que nos deixa com vontade de voar directamente até aos sítios que descreves. Não conhecia Jebel Barkal. Enquanto lia dei por mim a pensar que o turismo, com todas as consequências nefastas que tem quando se torna excessivo, tem precisamente vantagens no que referiste. Quando é controlado, pode ser um contributo para a conservação do património. É pena ver essa história toda a desaparecer…

    1. Rui Batista

      Obrigado pelas palavras, Ana 🙂 Gentileza tua. Sim, o turismo pode salvar comunidades… mas, se não for cuidado, poderá também transformar-se no seu maior pesadelo. Beijinho e boas viagens.

  7. Wandering life - Catarina Leonardo

    Que local grandioso Rui… Com as tuas palavras dá quase para fechar os olhos e “estar lá”. Quero ir e assistir aos “humanos-que-mais-parecem-formigas que pacientemente se movem na tela….Belissima forma de descrever.

    1. Rui Batista

      :))) Catarina, só “tu” para me arrancares um sorriso largooooo 🙂 Obrigado pelas palavras. Beijinho e boas explorações do Mundo…

    1. Rui Batista

      Carla, não deixes ‘cair’ essa prioridade 🙂 Vais amar!

  8. sónia justo

    Adorei o artigo :)mas tenho de confessar que nunca tinha pensado sequer na possibilidade de visitar o Sudão. Muito obrigada por esta partilha e por me permitires “alargar os horizontes”.

    1. Rui Batista

      Sónia, aprecio particularmente os destinos menos… óbvios. Não é logisticamente fácil, mas é bem estimulante 🙂 Beijinho e boas viagens…

  9. Edson Amorina Jr

    Mais uma vez viajei contigo, Rui. Que descrição mais bela de sua aventura. Estou gostando muito de acompanhar seus posts do sudão, um destino que não conhecia muito.

    1. Rui Batista

      Obrigado, Edson. Nada como irmos juntos – com os leitores – à descoberta deste fantástico planeta! Grande abraço e boas viagens!

  10. Lulu Freitas

    Como sempre um lindo texto que nos transporta para um lugar pouco divulgado e conhecido pelas maioria dos viajantes. Amei!

    1. Rui Batista

      Obrigado, Lulu 🙂 Sou mais de lugares recônditos e menos explorados do que dos destinos de massas. Boas viagens!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Lançamento livro

“BORN FREEE – O Mundo é uma Aventura”

Este é o primeiro livro de um autor português, Rui Barbosa Batista, que nos leva a viajar por mais de 50 países, dos cinco Continentes, não em formato de guia, mas antes em 348 inspiradoras páginas, 24 das quais com fotografias (81).