Segue-me

Quando as impacientes horas dão lugar a desesperante confusão.

Doze. Número bem redondinho. Foi esse o número de horas que tivemos de ocupar para que a noite em claro não fosse sem fim. Num parque de diversões, passariam rápido. No aeroporto de Riade, Arábia Saudita, custa um pouco mais. Sem visto, não podemos sair para pernoitar em algum hotel. Apesar de alguns personagens serem interessantes, a noite desfila mesmo lentamente e o corpo e mente, naturalmente, impacientam-se.

O voo para Daca é o oposto do de Madrid para Riade, com somente 21 clientes para cerca de 600 lugares. Agora somos os únicos estrangeiros (pelo menos, brancos) que tenhamos notado num amontoado de passageiros com a ordem e disciplina que experienciaremos na capital do Bangladesh. Juraria que até riquexós vagueavam entre as filas. A equipa da cabine da Saudia não parece muito feliz…

Seis horas no céu e dois filmes, ambos com os habituais pruridos. Não há bracinho de mulher desnudo que apareça no monitor sem que a imagem não seja desfocada. As palavras menos polidas são, simplesmente, apagadas.

Aterramos com bom tempo. A t-shirt ajusta-se ao calor da confusão com as malas e gigantescos embrulhos no tapete rolante. Nunca vi tanta mercadoria num aeroporto. Questiono-me se voamos ou viemos num imenso paquete. Onde transportaram tantas e tão grandes encomendas?

Com o visto tratado em Portugal, não tive qualquer problema. Autoridades bem simpáticas. Ao Octávio ainda chatearam uns 20 minutos. No fim, foi ele quem ficou a dar-lhes conversa…

Seremos convidados a dar gorjeta como agradecimento a vários pequenos gestos simpáticos. No aeroporto, nenhuma ajuda parece desinteressada. Pago chamada para o hotel a preço algo exagerado. Pior do que isso, do outro lado dizem-me que tiveram de cancelar a reserva. Não entendo bem porquê. Aviso que sigo de imediato para lá.

Como sempre, o táxi, contratado de forma oficial no aeroporto, é a primeira experiência dolorosa em qualquer país. Depois, o suposto taxista não sabe onde fica o nosso destino. Liga e o número está ocupado. Decide voltar para onde nos apanhou. Agora já atendem, parece que vai levar-nos.

O edifício tem luz, mas garantem-nos que em 30 minutos deixará de a ter, bem como internet. Estamos em viagem há incontáveis horas e precisamos de uma solução, não do relato dos problemas. Diz-nos que nos instalará em lugar igualmente bom. Um minibus arranca só connosco, com o motorista, o alegado gerente e um segurança. Afinal, pouco depois confirmaremos que o plano B não está disponível. Não ligaram a confirmar, viagem torna-se desperdício de tempo. Voltamos ao hotel. Gerente sai da viatura e entra o rececionista. E a aventura continua. Teremos quarto do outro lado da linha de comboio. A 50 metros. Em vez de cruzarmos a pé, pela estrada, damos volta imensa.

Um euro sessenta cêntimos para pagar dois jantares. Para compensar o facto de termos baixado uma estrela no conforto. Mesmo mantendo o preço. Com direito a mosquitos. E comboios a passar a cada dez minutos…

O chamamento do imame é ritual que aprecio, não quando o dia ainda não rompeu e estou praticamente sem dormir há demasiadas horas. Welcome to Bangladesh.

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6 Comments

  1. Andrea Rodrigues

    Fiquei a imaginar o cansaço de vocês, acha paciência para uma mente sem sono ouvir problemas e ir de um lado para outro feito bola de ping pong. Mas como diz a minha mãe, o importante é que chegaram bem a Bangladesh.

    1. Rui Batista

      Andrea, o Bangladesh é um maravilhoso filme… mas é preciso ter alguma paciência… e estômago 🙂

  2. Vitor Martins

    Sempre a aprender meu caro amigo!Que lição de vida

    1. Rui Batista

      Faz parte do caminho, Vítor 🙂 Grande abraço!

  3. Ruthia

    Apesar dos contratempos, chegaste ao destino, cumpriste a missão a que te propuseste, deste voz aos esquecidos. E isso, amigo, é o mais importante.

    1. Rui Batista

      Amiga, é isso mesmo. O caminho faz-se caminhando… todas as missões são assim. Obrigado pelo teu cuidado 🙂

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