Fome e algum cansaço, pelo constante balouçar do comboio, aconselham a um rápido fim de viagem. Mais pelo apetite insaciável, confesso. Quando, no início de potencial impaciência, começamos a conjeturar projeções de hora de chegada, eis que avistamos a placa de Nyaung Shwe. Está resolvido.
Ainda mal pousado o primeiro pezinho fora do comboio e já se atropelam a oferecer-me transporte para a cidade. A estação está ainda a 13 quilómetros da cidade. Cinco dólares é o primeiro preço. E, em desinteressada comunhão entre alegados concorrentes, garantem-me que é esse o preço. Não estou com muita vontade de negociar e fechamos em pouco tempo: um dólar.
À entrada da cidade, imposto à nossa espera. Uma paragem que não estava nos planos e adelgaça um pouco mais a carteira. A zona do Inle é agora protegida e são 10 euros/dólares a pagar por cada pessoa que entre na vila. Os transportes locais param invariavelmente aqui e não temos alternativa. Cruzar a entrada sem pesada mochila às costas até é pacífico. Ninguém chateia. Não é o caso.
Nos parcos minutos em que esperamos, impossível abstrair-nos do curso de água à nossa direita. A cor não é normal. Aparenta a tonalidade de uma descarga ilegal. E mais invulgar é a quantidade de pessoas que se banha nele. Com sabão. Ao lado de quem lava roupa, tachos e panelas.
Longe de ser imagem simpática, idílica que tenho do Lago Inle (na verdade, apenas a entrada para a sua vasta área). Mas é esta a realidade de boa parte da população. A nossa rede pública de saneamento, há décadas conquistada como direito adquirido, é algo a que apenas uma ínfima parte da população da Birmânia tem acesso.
Reparo nas observações aos visitantes. As regras a respeitar nesta região. Com efeito, presumo que são condutas universais. Porque o aviso? Acredito que não faltam doutos ocidentais em pose de neocolonialismo. Um crime não ficarem por casa.
Siga. Em dois minutos, estamos no hotel. A cordialidade de sempre onde quer que nos instalemos. Simpatia extrema, longe de ser forçada.
Temos fome de descobrir o Inle, porém os imperativos do estomago falam mais alto. Sentamo-nos logo no primeiro restaurante que encontramos. E como é bom ver o desespero de quem suspira por um wi-fi que permita consultar, de forma decente, o email ou facebook….
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