Balinsasayao: os gémeos lagos de montanha

Balinsasayao: os gémeos lagos de montanha

Quanto maior o sacrifício, mais estimulante o prazer. Aqui, no alto, apreciando serenamente a beleza dos gémeos lagos de Balinsasayao, a pele confirma-nos a justiça da teoria.
A rudeza da subida (13,5 quilómetros em sinuosas linhas na montanha em via que alguns chamam… estrada) diminui a números residuais os visitantes. Ao fim da manhã, aquando do registo, apenas nove nomes constavam da lista.
Enormes espelhos de água cobrem as duas crateras. Densa vegetação. E céu. Combinação simples. E mais do que cativante.
Foi de jeepney que chegamos ao início da subida. Onde motards “profissionais” (nada mais fazem na vida, além de transportar os interessados ao topo da montanha) começaram por nos pedir 10 vezes (por trajeto) o valor que tínhamos pago pelos 30 quilómetros anteriores. Negociação difícil.
“Não há problema. Com motos alugadas, vamos pelos nossos próprios meios. Até amanhã”, despedi-me, sorridente, após quinze minutos de infrutíferas conversas.
Até no bluff estes motards são bons. Mas não o suficiente para nos deixar partir definitivamente. Como estávamos determinados a fazer.
350 metros depois, somos abordados por uma dupla. Tentam convencer-nos justiça do preço. Demonstro-lhes o contrário. O compromisso fica selado por menos de metade do inicialmente proposto. Vamos três numa mota e dois noutra.
A paisagem na subida vai-nos provando o acerto do acordo. É simplesmente deslumbrante. As montanhas a desfalecerem até ao mar. Parecem deslizar derretidas em quentes verdes vivos.
As aldeias são pobres, mas com alma. A gente sorri. Retribuímos com acenos. Há animais a dormir na estrada. Imitados por bêbados, com sentidos perdidos. Tudo sereno.
“A minha casa é ali. Esta é a minha mãe e aquela que segura o meu filho é a minha esposa”, diz-nos Esteban, o motard da minha moto e que agora devolve a marmita do almoço.
Búfalos “domésticos” descansam. Submersos em lamacentos pântanos. Refrescam e afastam-nos dos insetos. Quem teimam em não os largar.
A área de pic nic de Balinsasayao é onde compramos o ingresso e nos registamos. Não temos tempo para a gozar. Fica a promessa de o fazermos uma outra vez. Está a 900 metros do “controle”. Uma ligação com tal grau de inclinação que “mata” os veículos de duas rodas. Os de quatro, poucos se atrevem a subir.
Tornear o matreiro caminho de pedras soltas e escorregadias à volta do lago, em verdadeiro carrossel de surpresas, exige cuidados acrescidos. Enfrentar a missão de chinelos de dedo é tão irresponsável quanto estúpido. Sinto-me perdoado por “desconhecer” a realidade. E as várias mazelas terem sido “suportáveis”.
Almoçamos sob abençoada proteção de palhota com vista privilegiada para o lago. Vontade de nadar. Ou de pagaiar. O lago é nosso.
Contornamos metade da cratera e subimos a um posto de observação. Não conseguimos vislumbrar os “gémeos” na mesma imagem. Mas deleitamo-nos com ambos.
Ainda exploramos caminho denso, sob manhosa vegetação. Somos surpreendidos com caranguejo que se refugia no âmago de árvore partida.
No segundo lago, Fernanda não resiste. Faz de tronco solto a sua jangada e salta para o lago. Pior foi tira-la de lá. A logística não era fácil.
Após ofegante e cuidado regresso, de escorregadelas e desequilíbrios sem consequências de maior, descida da montanha. Os nossos “amigos” esperavam-nos, pois só assim haveria pagamento.
A mesma beleza natural, em perspetiva distinta. Um percurso que, em termos de gratificação dos sentidos, em nada fica a dever aos gémeos lagos. Em nada mesmo….

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