Em apenas 200 passos teremos subido uns

Depois de subir
Hamit estava sentado. Na soleira da sua lojinha. Sereno, absorvia a energia do sol. Indiferente aos que por ali passavam. A uns

Fui espreitar.
“Sentem-se. Nada pagam por isso”, surpreendeu-nos Hamit, estendendo o braço em direcção a uma das cadeiras, na sombra.
Percebemos rapidamente que não era nepalês. “Sim, sou de Istambul. Mas isso foi numa outra vida. Agora vivo aqui. Há um ano”, contou.
O que leva alguém a deixar uma cidade encantadora para viver numa aldeia com 153 casas num lugar remoto e ultra-inacessível?Sorriu. Olhou para um lado. Virou a cabeça lentamente para o outro. Brilhou novamente. Agora com cada músculo do seu rosto, escurecido pelo sol.
Desnecessárias, as palavras. Os imponentes Annapurna a deslizar ora suave, ora abruptamente para um vale imenso. Que terminava ali. Mesmo aos nossos pés. Virando apenas o pescoço, nova depressão profunda até vislumbrar Pokhara e o seu aconchegante lago.
“Os dias aqui são perfeitos. Esta gente é pura. Longe do turismo, não tem maldade.

Cá em cima há sempre o que fazer. Dou uns toques na área de electricidade. Sou quem resolve esses problemas à aldeia”, acrescentou, com uma das expressões de maior serenidade alguma vez vista.
A vida dura apenas de sol a sol. A higiene pessoal consome-lhe meio dia. “Devo descer até a um lago que tem uma cascata. Aí tomo banho e lavo a roupa. Quando regresso, espera-me sempre alguma tarefa. Há alguém a quem ajudar”.

Hamit não é um turista. Nem viajante. Deixou de ser um estranho. Passou a ser parte da família. Já integra a paisagem. O odor. A textura. A magia do local.
“Roupas, carros, computadores, telemóveis, televisão… só coisas que atrapalham a minha vida. Há muito que deixei de sentir a sua falta. Num lugar destes, quem precisa disso?”
4 Comments
Hamit conquistou-me há alguns anos e deu a conhecer projeto Born Freee. Grande Hamit!
Bela novidade, Teresa Afonso. Espero que não tenha sido apenas esse texto a “prender-te” ao Born Freee 🙂 Beijinho e boas viagens…
Que belo relato Rui, fiquei com essa frase marcada na cabeça “Os dias aqui são perfeitos. Esta gente é pura. Longe do turismo, não tem maldade.” Realmente, até que ponto os turismos de massa descaracterizam os destinos e seu povo, né? É uma boa reflexão…
Gabriela, penso muitas vezes que nós, bloggers de viagem, ajudamos a ‘destruir’ vários paraísos, levando mais gente para lugares que entendemos especiais. Por isso mesmo no Bornfreee tento apenas “inspirar”, sem dar a papinha toda de como ir e ficar, facilitando esse turismo. Quem tem mesmo vontade, que faça pela vida :))) (kiddding)