Não há pequeno-almoço. Despertamos cedo e não há ninguém no complexo. Além do guarda-noturno, que não tem uma palavra de inglês para oferecer. E não entende os nossos gestos agregados a palavra que é suposto entender: “gelada”. Trata-se de um babuíno que vive apenas nas terras altas da Etiópia.
Com os seus binóculos de perscrutar aves, Augusto deteta três gelada ao longe. Perto de falésia aparentemente complicada de atingir. Quanto mais cedo iniciarmos o caminho, mais rapidamente estaremos perto de cumprir a missão.
Teremos de atravessar a famosa ponte portuguesa. Vai desculpar-me o meu descuido e falta de atenção nessa primeira passagem, mas não me parece que ela vá sair dali. Já os babuínos, são mais irrequietos. É atrás deles que vamos.
Avistamos três junto ao precipício. E aproximamo-nos. A uns cinco metros. Acabam por descer pela escarpa íngreme. Não há tempo para deceção. Em segundos perceberemos que temos ali comunidade generosa. Ao todo, umas 50 a 70 espécimes. Machos, fêmeas, jovens, adolescentes e adultos.
Este é, sem dúvida, o momento National Geographic (animal, já que o natural foi o vulcão Erta Ale) da viagem. Nunca imaginei estar tão perto, em ambiente selvagem. Impressionante.
Subitamente, agitação. Dois machos lutam ferozmente. Há uma tribuna de babuínos que apenas vira a cabeça e aprecia. Sem agitação. Já o resto da comunidade, corre, grita, representa cenário de caos que termina 15 segundos depois. Como se nada se tivesse passado.
A vida continua. Há jovens que mamam. Outros que catam. Há machos com a sua virilidade bem exposta. Há quem brinque. É como se não existíssemos. Somos “moscas” incógnitas no Mundo selvagem.
A fome aperta. E regressamos à base. Pela ponte portuguesa. Onde já está um cobrador. Dois euros por pessoa, pela travessia. Não fala inglês. Dizemos que fomos nós a construir. Ou os nossos antepassados. E que deveríamos ter isenção. Já bastam as portagens em Portugal…
A história da ponte? No post seguinte…
O Ethio German Lodge começa a ganhar vida. Há um grupo de bird watchers que está deliciado a observar a vida no imenso céu azul. Máquinas fotográficas tecnologicamente do mais evoluído, lentes ultra potentes. Binóculos estilosos.
Há uma cabra que perdeu a vida. E está a ser devorada por corvos e abutres, de várias espécies. Nota-se excitação em todo o grupo. Augusto é mais audaz e encontra um caminho até perto do local do crime. Onde abutres aterram com inusitada quase-elegância.
O “abutre quebra ossos” é o ultimo a chegar. Pega no seu quinhão, sobe bem alto e deixa cair o osso. Que parte no solo. Objetivo cumprido: alimenta-se do tutano. É assim o seu modo de vida.
O grupo organizado parte. E voltamos a ter paz. Apenas nós a contemplar a paisagem. Serenamente. O cenário ideal para os últimos lampejos de natureza bruta nesta viagem….
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