Segue-me

Apanhamos a bilheteira a fechar. Foi mesmo em cima do “gongo”. A senhora tinha-nos garantido que às 19:00 virava costas e não queria saber. Os segundos esgotam-se quando lhe estendo a nota. “São cinco bilhetes para o espetáculo”, atiro, com um sorriso.
Parece-me tão surpresa quanto incrédula. Tinha torcido o nariz quando, horas antes, lhe manifestamos interesse em assistir ao show em pleno edifício simbólico do coração de Yerevan. No seu parco inglês, tinha engasgado um “today, not good” que relevamos. Afinal, a nossa curiosidade vai muito além da qualidade do desempenho e o tipo de performance.
A Opera House é, de facto, um edifício soberbo. Em anfiteatro de três níveis – e uns “pozinhos” intermédios – uma sala à moda antiga, com imponentes candeeiros e cadeiras semirrígidas. Que complicam qualquer tentativa de adormecer durante os espetáculos. A decoração tem demasiados traços clássicos. A espaços, cheira a mofo. Será da idade das senhoras que têm a missão de nos guiar até ao respetivo lugar. Mas que, na verdade, estão-se a marimbar.
Não sabemos ao que vamos. Apenas que a sala ficará praticamente cheia e que o público é bem entusiasta. Incluindo umas duas centenas de jovens militares, a caminho da puberdade. Não tiram os olhos de nós. Bom, das meninas que nos acompanham. Que distribuem charme e, como nós, acham piada à situação.
Parece que estamos num festival da canção. Os intérpretes vão-se sucedendo, todos acompanhados pelos mesmos quatro músicos. Piano, cordas e percussão.
O arménio cantado tem sonoridade peculiar. Lembra precisamente tempos idos. Os cantores masculinos apostam no tradicional fato e grava. As donzelas, em fatos mais arrojados. Encontraria um top três digno finalista de Miss Arménia, não se desse o facto se já terem passado mais de duas horas e estarmos atrasados para um compromisso.
Valeu a investida e a experiência. Talvez mais do que nunca, neste périplo, senti-me verdadeiramente transportado para uma outra era, nos meados de um século XX bem atribulado por estes lados….

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