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Pesadelo em dose dupla

Pesadelo em dose dupla

Quando desperto e vejo “XYZ” (nome de código de donzela, cuja identidade um cavalheiro não pode revelar) com o mais aflito dos ares, percebo que a noite vai ser bem complicada. Tem o ar de desespero limite de quem precisa sair mais do que urgentemente da feluca… que está a uns bons metros da terra firme.
É noite cerrada. Não há luar que nos ilumine. Tento acordar o “comandante”. Atabalhoado, abano-o de cima a baixo. Bato-lhe nas pernas. Imóvel. Chamo por ele e aumento a “violência” do contacto físico. Não há terramoto ou tsunami que o desperte. Insisto, obviamente. Acabo por ter sucesso. A custo, abandona o seu estado inerte.
Aproximação a terra concluída. E há uma luz que desaparece no breu. Segundos depois, aproveito e sigo o mesmo caminho…
O jantar na feluca é momento singular. partilhamos histórias e sentimo-nos privilegiados com o momento a bordo, após um entardecer fantástico. Pena que a refeição acaba por ter efeitos nocivos em dois elementos. Sim, sou um deles. E não é agradável.
O comandante tem um pequeno fogão e muitas especiarias. Com tantas mulheres a bordo, sobra-lhe… entusiasmo. Tenta convencer-nos a voltar à cidade para comprar álcool. Cerveja e vinho. Não se nos afigura boa ideia que quem zela pelo nosso bem-estar e o seu “imediato” estejam embriagados. Os seus olhares derretidos e babados para o quinteto feminino luso é suficiente para imaginar todo o filme. Dispensamos.
Sem álcool, não perde a atitude simpática. E esmera-se no jantar. Que está saboroso. E no ponto para intestinos mais… amuados.
Bastante aflita, XYZ vai três vezes à praia. Aliviar-se do seu desespero. Na última delas, opta por ficar na areia para não ter a trabalheira redobrada de caminhar pela estreita tábua que liga o barco a terra firme e andar neste vai e vém constante.
Quando acordo com o desespero de XYZ, sei que a revolução intestinal que me tem atormentado vai dar asneira. Desprezei-a injustamente. Estava mais preocupado com o assalto de mosquitos de que sou vítima. Estes simpáticos amiguinhos fazem-me esquecer o ligeiro percalço que marcou nas minhas costas um ferro do barco. Picam-me em TODO o lado. Vale-me o consolo de me sentir o suficientemente desejado para justificar esta preferência, em relação aos meus relaxados companheiros. No devaneio da mosquitagem, a Patrícia é a única a fazer-me ompanhia na qualidade de mártir.
A minha primeira incursão na natureza não corre como esperado. Para respeitar a privacidade de XYZ, subo ingreme duna. Uns metros ao lado. Ao cimo, espeto dois “picos” no dedo grande do pé. Com a pressão que faço a subir, os afiadinhos rasgam-me o dedo. Não chega bem a meio centímetro. O sangue é engolido pela areia.
Na segunda saída, sou mais prudente. Após espalhar mais caos na natureza, desço e, ao chegar perto da feluca, calco novos espinhos que se espetam ferozmente na planta do outro pé. Instintivamente, grito. Contorço-me de dor e mergulho no chão. XYZ regressa de nova cruzada e assusta-se. E rimo-nos ambos. Haverá pior infortúnio?
XYZ acabará por dedicar mais tempo à praia enquanto eu tento controlar estes humores intestinais, missão que reparto, inutilmente, com combate ao batalhão de sádicos mosquitos. Tudo perante o doce descanso do resto de companheiros de aventura. Preparo-lhes uma pequena “vingança”?.

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