Os mercados noturnos são o meu fetiche, onde quer que esteja. E este não me desilude. Precisamos de estomago para algumas imagens, mas é aqui que as cidades revelam o seu verdadeiro pulsar. E nada como deambular sem tempo – ou objetivo – por ruas apinhadas de bancas onde começamos por encontrar frutas e vegetais, transitamos para o peixe, antes de aparecerem os animais. Depois vem a tralha habitual – tudo o que é inútil – têxteis, quinquilharia… e joias. Um must.
Alexandria saboreia-se nas ruas. Até na mulher que começa a disparatar connosco, porque tiramos uma foto a uma jovem muçulmana. Que se sentiu honrada com a imagem. Vocifera de tal forma que chama a atenção generalizada. Pedimos tradução a uns jovens universitários. Encolhem os ombros. Tentam falar com ela. Dizem-nos que é “louca”. Que o melhor é esquecer e seguir caminho.
Nesta altura, valeu-nos o estomago recém-confortado. Uma sandwish de mistela de fígado com especiarias e malaguetas. Quando a fila de espera é grande, o melhor mesmo é arriscar. Se a procura é tao farta, dificilmente nos podemos enganar no petisco.
Nas ruas também se escreve revolução. O último século foi farto em mudanças. Nos últimos três anos, a um ritmo inimaginável. Caiu o ditador Mubarak. Morsi nem aos seus muçulmanos agradou e foi deposto. E agora são os militares a controlar. Tudo mais pacífico. Aparentemente.
Não passa despercebido inusitado dispositivo militar em torno da famosa e imponente biblioteca de Alexandria e da universidade. Corpo de intervenção. Todas as esquinas patrulhadas. Carros anti-motim. Tudo aparenta serenidade. O aparato sugere-nos que tudo pode mudar. A qualquer momento.
Perguntamos a um militar o que se passa. Indica-nos para falarmos com um superior, graduado. Que responde com sorriso trabalhado: “É para a população se sentir segura”.
Retorquimos que no resto da cidade não há qualquer dispositivo militar acionado. Se os outros cidadãos se entirão, por isso, igualmente seguros. Mantém o sorriso, sem mais palavras. Seguimos caminho.
O forte de Qaitbay, no início da longa baía, é lugar muito procurado. São 500 anos a proteger a cidade velha, trajando atitude de peito feito aos muitos invasores que sempre viram Alexandria como o ponto fulcral das suas pretensões no Egito. Há muitos vendedores de souvenirs. Sem sorte. Desafiam-nos para um passeio a cavalo. Preferimos continuar a explorar a pé.
Não muito longe, há uma pequena feira popular. Como que camuflada. Os vários carrosséis, todos em miniatura, na escuridão. E as luzes vão-se acendendo à medida que vamos passando. Nos e outros mais credíveis potenciais clientes.
A música que não toca – e, em local de diversão, é suposto faze-lo – chega através de uma scooter a debitar decibéis bem acima do tolerável. Difícil encontrar melhor forma de alguém se fazer anunciar.
Investimos às cegas por bairro muçulmano e acabamos numa mesquita. Apreciamos a sua imponência e beleza estética. E notamos um tom mais descontraído do que o habitual em igreja católica. Aqui as coisas não parecem tao formais. Densas. Pesadas. Mas não é por isso que me cativam. Enquanto a sanidade não me abandonar, sempre fiel a abstinência religiosa. E distância politica..
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on pinterest
Pinterest