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Lago Inle – Puro Éden

Lago Inle – Puro Éden

O entusiasmo tira-me da cama antes do despertador. Caminho cinco minutos e em 30 segundos negoceio o barco que nos vai levar a explorar o Lago Inle. Volto ao hotel, pequeno-almoço farto e às 08:00 já estamos a rasgar as águas doces do lago com uns 100 quilómetros de comprimento e cinco de largura, em zona montanhosa: está a 884 metros acima do nível do mar.
Quem anda pela Birmânia coloca o Inle no topo das preferências e logo percebemos o porquê. E não se deve apenas à fama dos singulares remadores da etnia Intha (“filhos do lago”), que o fazem utilizando apenas uma perna. O lago transpira beleza e tranquilidade e nada melhor do que explora-lo de barco.
Ao raiar da luz, esperam-nos jardins e aldeias flutuantes, métodos de pesca artesanais, várias minorias étnicas, distinta vida rural… tudo sobre águas com mais de 20 espécies endémicas, nove deles peixes, três dos quais habituais em aquários de todo o Mundo.
O motor arranca e a proa vai altiva, elegante, destemida. Leva-nos para uma viagem em um outro planeta. Um Munod aquático que começa no canal de Nankand que nos liga a um mar de horizonte perdido…
Estamos quatro em fila indiana, cada um com uma cadeira e colete salva-vidas. Vamo-nos cruzando com embarcações repletas de birmaneses: variam, na maioria, entre os 10 e os 15 e vão sentados no casco. Sem qualquer tipo de proteção.
Logo nos primeiros metros sentimos a boa onda desta gente, que nos acena, efusivamente, sempre que nos cruzamos. Será assim a toda a hora. Gosto quando mudo a coreografia do aceno, com os braços, levantados alternadamente, como se socasse o céu, e logo sou imitado por uma plateia invariavelmente sorridente. E que já é pródiga em smartphones com os quais registam os nossos encontros.
Não chegamos a acelerar muito, já que surgem os primeiros malabaristas do lago. Um pé na popa, outro levantado a mais de 90º, segurando a cónica e metálica rede de pesca, e o sorriso… de quem já faz isto antes de termos nascido. Aqui, um ato circense. Estamos mesmo à saída de Nyaung Shwe e, mais do que apanhar peixe, esperam pelos visitantes. Uma bela exibição é, bastas vezes, recompensada com uns quantos kyats.
A primeira aldeia é uma avenida aquática com sucessivas casas sobre estacas e, ao fim, um pontão de madeira que nos leva a terra firme. Atracamos e logo seguimos para o primeiro mercado.
Há fruta, legumes, peixe, carne, utilidades para uso diário, souvenires (claro, os estrangeiros andam por aí…), musica, roupa… e cor. Muita, muita cor. Deambulamos pelas improvisadas artérias entre tendas próximas e vamo-nos misturando numa paisagem que nos relaxa e serena.
Os gelados são peça única, compacta, em forma de coração. O vendedor fará um risco e, faca afiada, corta uns 10 exemplares, em fatias de espessura bem diversa. Depois espeta um palito em cada coração. É o amor que já se entranha em nós pela Birmânia. Esquecendo as emoções, os 10 cêntimos mais saborosos do dia. Até agora…
Regressamos ao barco. Há jovens, de ambos os sexos, a treinar o movimento do remo com um só pé. E voltamos novamente ao lago aberto. Passaremos pelo Myanmar Treasure Resort. Um luxo que combina com a exuberância do cenário. Vamos saltando de aldeia em aldeia até nos fixarmos em “fábrica” de têxteis. Uma visitinha rápida, pois os preços são verdadeiramente hard core. No sense. Perceberemos o processo sem desejar levar qualquer memória material da experiência.
O almoço é ao nível de um quarto andar com vista de camarote para o resto da aldeia e o lago. O calor aperta e refrescamos com sumos de natural saborosa fruta. Apenas mais uma Myanmar para atacar o problema antes que agudize. O tempo escorre ao sabor de peixe do lago, em diferentes versões. No sabor, “vence” o grelhado com legumes.
Os jovens “marinheiros” – ambos são menores – que nos guiam pelo lago jogam às damas. Com caricas. Insisto para que acabem o jogo. Entretêm-se enquanto esperavam por nós. Uma das minhas amigas fica vidrada no anel de um deles. Não o aceita negociar. “Foi prenda de amigo”, justifica. “Então, tens de nos levar onde os fazem”, replica Patricia.
O processo artesanal de derreter metal e transforma-lo em joias é interessante. Já o preço é mais adequado a turistas de países sem necessidade de resgate financeiro. Atravessaremos o débil caminho de bambu para outro estabelecimento sobre estacas, porem os mesmos “tiques” quanto aos valores logo nos devolvem a terra. Neste caso, à água.
Os barcos aglomeram-se para visita a grande templo budista. Hoje não queremos misturar religião com prazer. Basta. Em pouco tempo rumamos a aldeia das denominadas “mulheres girafa”. E como este Mundo é diferente….

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