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Colónia de Sacramento, é bom estar em casa

Colónia de Sacramento, é bom estar em casa

Estamos em Trás-os-Montes. Alentejo? Hummm… talvez Beira Interior. Na verdade, calcorreamos a Calle de los Suspiros. Rua emblemática do centro histórico de Colónia de Sacramento. Estende-se paralela à muralha, da Praça Maior (Plaza Mayor) em direção ao Rio da Prata. E que me soa demasiado a transmontano, ou não fosse essa a região de onde vieram centenas de emigrantes em 1718.
Foi há 335 anos (1680) que Manuel Lobo, ‘nosso’ homem no Brasil, cá chegou com uns 300 homens para fundar este encanto de lugar, que foi saltitando de pertença entre Portugal e Espanha até à independência do Uruguai, em 1828. O governador do rio de Janeiro veio com instruções de D. Pedro II para fundar uma colônia fortificada para apoio logístico ao comércio com as províncias colonizadas pelos castelhanos. Tanto no atual Uruguai, como na Argentina: Buenos Aires, que na altura tinha muitos portugueses, entre agricultores e comerciantes sob a alçada espanhola, fica do lado de lá do rio da Prata.
As ‘tortas’ ruas empedradas sarapintadas de velhos lampiões nas paredes. Os quelhos empedrados revestidos a pequenas casas térreas de pedra, em tons rosas, amarelos e brancos. Nada disto engana. Nem a telha antiga. Ou igrejas. Esqueci os azulejos? Em caso de ainda persistirem dúvidas, ‘Rua de Portugal’ ou ‘Manuel Lobo’ aplicam a sentença final.
Em 1986, graças à UNESCO e, posteriormente, ao dinheiro da Gulbenkian, este lugar esquecido passou a integrar novamente o mapa Mundo. E o turismo cresceu: retocaram-se fachadas, ergueram-se muros destruídos e esconderam-se no solo os cabos de eletricidade e telefone. Em simultâneo brotaram pequenos hotéis, restaurantes, bares. E lojas de souvenires. Não a ritmo frenético, que o turismo é muito sazonal, mas o suficiente para ninguém ceder ao tédio enquanto cá está. De cara lavada e recuperado o charme, o turismo fez renascer Colónia de Sacramento. A mais bela cidade-museu do Uruguai.
“Durante boa parte do ano, dá para termos a nossa vida normal, tomando um mate com calma enquanto trocamos dois dedos de conversa com o vizinho”, diz-me simpática anciã. Por aqui, enquanto andamos sem roteiro fixo, ainda encontramos o Museu Português – conta a história dos pioneiros e como era a sua vida, sempre ameaçada pelos castelhanos – bem como a Casa Portuguesa. A porta da cidadela, a igreja matriz, o convento de S. Francisco, o museu dos azulejos, ou o farol valem a investida.
A flutuação do peso argentino vai ditando a invasão do vizinho. Na verdade, muitas casas por estas bandas estão sem uso, uma vez que pertencem a porteños mais endinheirados e que só por cá aparecem quando a ocasião justifica.
Hoje o dia está calmo. O ambiente faz-me lembrar a nostalgia dos anos 20 do século passado. A velha calçada tem dois carros desse tempo. O sol faz maravilhas neste ‘casco viejo’. O cenário é pacato. Há tempo para viver. Para falar. Degustar esplanadas. Ouvir e sentir a vida. Para saboreá-la, até ao gosto do típico mate… .

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