Intermináveis quatro horas e meia a subir. Apenas a primeira com luz solar. Terreno demasiado irregular. Traiçoeiro. Muito por onde correr mal. A ajudar, simpático golpe na planta do pé direito. Andar é quase suplício. Problemas intestinais e o imodium ficou a repousar em Makele… E lábio inferior algo para o mal tratado, do sol. Muito suor e banhos de toalhetes. Wc onde calha. Excelente. O cenário tem muito por onde melhorar.Nada disto tem importância quando, finalmente, tenho sob os meus pés a efervescente cratera do vulcão Erta Ale. Ondas de lava baloiçam como o revolto Atlântico. Uma coreografia em tons laranja enfatizados pelo negro da noite. Sob o mais cristalino céu estrelado. Comecei por cumprir dolorosa pena, mas a recompensa pela subida é assombrosa. Há poucos vulcões no Mundo ainda em actividade, mas nenhum permite uma aproximação desta natureza. Não estarei a mais de 20/25 metros do magma que tudo consome. Tenho o vento pelas costas – inalar estes gases pode ser fatal – mas nem por isso deixo de sentir um calor que abafa o vento que castiga.Mp3, seleção musical apropriada e uma hora de autismo total. A imprudência vence e há dupla a dormir na orla da cratera. Desta vez não serão cabras a servir de despertador. Nem intrusos ou o grito agreste do Islão antes do romper da aurora. É mesmo uma erupção as 04:30 que ilumina o céu e faz temer o pior. A lava é fogo de artifício em enigmáticas espirais. Acalma. Serenamos…Com a luz solar a abraçar a atmosfera, a imagem do vulcão continua soberba. Apenas tem mais tonalidades, embora menos contrastes. Não apetece partir, mas já estamos atrasados para dura etapa.Das muitas coisas fantásticas que experienciei na vida, esta tem direito ao quadro de honra. Merece ser recordada..
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