A noite ía ser longa. Isso ajudou a nova barrigada de “Pizza Zanzibar”. Uma delícia que deixou saudades. Levamos duas cada um para o ferry, onde iríamos passar a noite. Partimos às 22:00 e só às 06:00 estaríamos autorizados a desembarcar em Dar es Salaam. O porto tem horas de funcionamento, teríamos de aguardar ao largo.
Comodamente instalados na zona VIP (as nossas amigas islâmicas fizeram questão de escrever “VIP” no bilhete, mas não sabiam dizer concretamente em que se traduzia esse “valor acrescentado”), não tardou muito até pedirmos os nossos colchões para os espalharmos tranquilamente no chão.
No andar em baixo, eram às centenas apinhados por todo o lado, incluindo na zona exterior. Afinal, os 20 dólares serviram para algo. Compraram… e s p a ç o.
Já em terra, contrarrelógio para apanhar o bus para Matwara. Apenas um por dia. Saía às 06:00… e saiu mesmo. Eram 06:30… Não há tempo para lamúrias. Nem estômago para mais uma noite na capital. Acionar plano B.
Apanhamos táxi. Em grande velocidade e imensos atropelos às mais básicas regras rodoviárias, chegamos a uma estação a Sul de Dar es Salaam. O velho autocarro estava de partida. Atravessámos a viatura à sua frente.
Pediram-nos 30.000 shillings, pagámos 20.000, mas devíamos ter despendido apenas metade. Mas em África, a côr conta e a do dinheiro está patente em tons de… branco.
Sabíamos que uns 600 km em autocarro marado da “Southern Express” iam ser dose, mas desconhecíamos que o motorista era completamente louco. Em todo o percurso (incluindo as aldeias em que não parava), “voou” a mais de 120 km/hora em caminhos permanentemente de terra polvilhados de buracos e lombas.
Adivinhem? Sentámo-nos na penúltima fila. O que significa isso? Que íamos sentir cada um dos (inúmeros) saltos do autocarro que o nosso corpo acompanhava com dorida paciência. Não ficamos defraudados. Sentimos mesmo.
Mesmo tomando precauções para evitar graves danos de coluna, apertando bem o cinto de segurança, Batista e Morais não evitaram ferimentos. Os braços têm marcas, ensanguentadas, da violência da viagem. A ver se a crosta dura até Portugal…
A cerca de uma hora do fim da viagem, “engasgou” e parou. Faltava gasolina. A bomba estava a uns meros dois ou três quilómetros, mas estivemos quase uma hora parados.
Já na confusa estação de Mtwara, negociámos rápida incursão para a fronteira. Quando vimos que íamos viajar na traseira de uma pick-up mais de 40 km em caminhos de cabras, decidimos poupar o nosso já muito desgastado corpinho.
Em boa hora o fizemos. A fronteira moçambicana fecha às 17:30 e jamais chegaríamos a horas. Teríamos de pernoitar no mato…
(Viagem a África, 2009 – africatrio.blogspot.com).