Segue-me

Pequeno é palavra que pouco se adequa quando se fala do recanto português de Toronto. Rondam os 300.000 emigrantes na província de Ontario e a multicultural metrópole canadiana – aqui, falam-se 120 línguas – alberga boa parte deles. Começaram a chegar nos anos 50 e vêm essencialmente dos Açores. O arquipélago é mesmo nome de rua.
Entre as ruas Dundas e College concentra-se boa parte da comunidade lusa, verdadeiramente autossuficiente em termos de serviços: há supermercados, talhos, advogados, lojas de roupa, restaurantes, confeitarias, oficinas de mecânica, agências de viagens, uma igreja…
O mais comum nesta zona é ouvir-se o português, mas nem por isso saudades “deste Portugal”: “É dolorosa esta separação da família, amigos, da terra que nos viu nascer. Mas não conseguimos voltar com esta cambada de gangsters que há demasiados anos governa o país”.
“É uma vergonha e não entendo como as pessoas se deixam enganar assim. Em que mundo se vive, em Portugal?”, questiona o senhor Arsénio, com a autoridade dos seus 66 anos.
A pé, percorro as artérias e vou falando com as pessoas. Todas me desejam sorte quando digo que cheguei na véspera. Julgam que venho trabalhar, desejam-me “boa sorte” e avisam-me que “o mercado de trabalho já não é o mesmo”. Sossego-as, digo que venho por menos de três semanas. “Então que aproveite ao máximo, pois este é um país fantástico”, acrescenta D. Elvira, enquanto escolhe produtos portugueses no supermercado. Perto a grafitti com referências de Portugal.
As pessoas sentem-se perfeitamente integradas. Sentem falta de Portugal, mas poucas desejam voltar. “A não ser de férias”, diz-me Joana, investigadora molecular.
“Os filhos nasceram ou cresceram cá. Têm a vida feita. Alguns já casados e com filhos. Já pouco nos faz querer voltar”, assume D. Teresinha.
Concluo este périplo por Kensington Market, que já teve muito de português, mas agora a presença está resumida a duas ou três lojas. “As pessoas começaram a deslocar-se para outras zonas e emigrantes de outras etnias vieram para cá. Ganhamos cor, mas perdemos portugalidade”.
Dizem-me que devo aparecer para ver um “clássico” de futebol. Garantem-me que é uma “festa”. Não duvido. “Discussão antes, durante e depois. Não se entendem, mas no fim um copo e tudo amigos como dantes”. Imagino…
Uma delícia este passeio e uma honra privar com a nossa distinta e comunidade em Toronto..

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