Desfrutar do solstício de verão foi o desafio que me trouxe a Monsanto, contudo este foi um mero pretexto para poder voltar à estimulante Beira Baixa, destino de múltiplos encantos e incontáveis braços abertos para bem nos receber.
Chegar à que muitos ainda conhecem como a ‘aldeia mais portuguesa’ do país é, por si só, um renovar de alma, quando vamos ziguezagueando na estrada até nos surpreendermos com o que a mão do Homem ‘esculpiu’ na montanha.
Sem tempo a desperdiçar logo aponto ao topo, caminhando rumo ao castelo que tem vistas verdadeiramente impressionantes para todos os horizontes. Aqui, sentimo-nos autênticos ‘senhores’ da Terra. Tudo o que o nosso olhar alcança é fotografia para os nossos caprichos.
Deambular, sem um guião, pelas ruelas de Monsanto é um exercício para repetir. Uma e outra vez. Não me canso da sua beleza. Nem de descobrir novos detalhes. Ou de me deter em mais uma conversa com gente genuína e acolhedora, talhada a xisto e granito.
Para os que privilegiam a organização, atirem-se à Rota dos Barrocais, de 4,5 quilómetros pelos caminhos tradicionais e urbanos desta maravilha da nação.
A Torre do Relógio não só é fotogénica como um marco na paisagem urbana, na qual vou procurando o melhor miradouro para as vastas planícies.
Encontre a calçada romana e deixe-se deslizar até à Quinta de São Pedro de Vir-a-Corça, onde entramos num mundo de fantasia. O lugar acertado para relaxar e para nos deixarmos envolver pelos mais criativos sabores destas terras. O perfeito aperitivo para uma noite épica…
O MÍTICO SOLSTÍCIO DE VERÃO
Foi nesta noite que, há muitos anos, numa festa pagã, numa clareira improvisada em remoto Parque Nacional da Estónia, me enamorei. Kristi, como outras, deslumbrava com uma coroa de flores na cabeça. É assim mesmo que nos começam a encantar na Quinta de São Pedro, distribuindo estes colares de pétalas pelas donzelas convidadas. Na verdade, todos os nossos sentidos ficam reféns desta experiência, que certamente desejo repetir.
É tempo de celebrar. O Sol atinge o seu auge. Tal como a natureza, pincelada pelo feitiço de árvores e flores nos seus momentos mais exuberantes. Quem se atreve a negar os seus poderes mágicos?
Será sob um imenso céu estrelado que ouço histórias de outros tempos. E fabulosas lendas que as acompanham. Confirmo que os ciclos da natureza, os cultos da lua e do sol estão profundamente enraizados nestes territórios, como uma marca cultural muito própria. E percebo que tenho de encontrar menos desculpas para contemplar, muitas mais vezes, o nascer e o pôr do sol… Haverá algo mais especial do que contemplarmos o lusco-fusco da madrugada ou o do cair da noite?
Agora estou na capela de São Pedro de Vir-a-Corça, um templo românico escondido entre o silêncio, os árbutos e os sobreiros que marcam a paisagem. Ao lado de sepulturas cravadas na rocha. Um local bucólico com fontes que nos desafiam a saborear o murmúrio da água.
O dia mais longo do ano parece dar-nos mais tempo para viver. Porque não terminá-lo com uma bela experiência ‘dark sky’?
(Os restantes bloggers de viagem que me acompanharam não sabem que, ao invés de ir dormir, vagueei, sozinho, pela madrugada deserta de Monsanto…).
PRAIAS FLUVIAIS, O MELHOR REFRESCO PARA O VERÃO
Desejo abraçar TODA a Beira Baixa – Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Oleiros, Penamacor, Proença-a-Nova e Vila Velha de Ródão -, navegar no Tejo e explorar o Zêzere, o Ocreza, o Erges e o Ponsul, ‘perder-me’ nas serras da Gardunha, da Malcata e de Muradal. Infelizmente, desta vez não posso satisfazer todos os meus caprichos, por isso, deixo-me levar, começando pelo monumento natural das Portas de Ródão.
Estou em Vila Velha de Ródão e navego no rio Tejo, num cenário propício para apreciarmos uma rica biodiversidade. Enquanto deslizo nas suas águas tranquilas, vou degustando sucessivos vinhos da região e mergulho num cativante rodízio gastronómico com sabores locais, focados sobretudo nos peixes do rio. Admito, o meu palato ficou (muito) agradavelmente surpreendido.
E é com o estômago feliz e bem ‘regado’ que procuro a sorte, nomeadamente deparar-me com espécies raras de fauna e flora, e tentar descortinar o castelo do Rei Wamba.
É no mesmo ambiente natural que desfruto da praia fluvial da Fróia, perfeitamente integrada na natureza. Este tipo de infraestruturas balneares para nos refrescar no verão são comuns na Beira Baixa. Não faltam opções para que a leveza e bem-estar tomem conta de nós. Tomem nota: Castelo Branco (Almaceda e Sesmo), Idanha-a-Nova (Pego), Penamacor (Benquerença, Meimoa e Meimão), Oleiros (Açude Pinto, Cambas e Álvaro), Proença-a-Nova (Fróia, Aldeia Ruiva, Cerejeira, Malhadal e Alvito da Beira) e Vila Velha de Ródão (Foz do Cobrão).
ALDEIAS DE XISTO, MARCAS DE CARÁCTER
São seis na Beira Baixa e fazem parte da nossa história. A de Figueira, em Proença-a-Nova, era-me ainda desconhecida. E como foi bom ser guiado pelos tesouros das suas memórias. Como foi recompensador perceber que se está a reerguer. E como foi memorável entregar-me aos seus sabores: conhecem o restaurante Ti Augusta? Esqueçam o ‘não’ como resposta…
É como transportar-me à infância, pois sinto-me uma criança a escutar atentamente as histórias da empreendedora que transformou este restaurante num marco da região. Alguém que trocou o Norte pelo Amor, que investe, no seu estado mais puro, genuíno e profundo, na revitalização deste lugarejo. Como é bom ouvir falar assim da terra adotada como sua…
No mesmo concelho, a serra das Talhadas é um bom local para apreciar os verdes e o relevo da região. Sobretudo na torre de uma estrutura metálica, com 16 metros de altura, autoria do conceituado mestre Siza Vieira. Reconheço o privilégio da vista, mas vejo esta obra como uma agressão na paisagem.
A 100 metros há uma rampa de auxílio à prática de parapente, com vistas belas e horizonte largo, bem como trilhos para enduro e BTT. Os mais radicais podem ainda explorar a Via Ferrata, a mais extensa de Portugal, com 2.190 metros de extensão.
Voltando ao xisto e às suas povoações, além de Figueira, Monsanto e Idanha-a-Nova, ficaram na lista futuras visitas a Álvaro, Sarzedas e Martim Branco (esqueçam a ‘papinha toda feita’, procurem o concelho, boa?).
CASTELO BRANCO, UM FINAL FELIZ
É pelo fim desta curta, porém intensa aventura que começarei a minha próxima viagem. A capital de distrito está bem mais entusiasmante do que as minhas recônditas memórias, trajando agora mais virtudes.
Percebo que há uma nova vibração cultural, que as ruas estão embelezadas e o comércio floresce. No castelo sinto a singularidade da luz desta cidade, observo a sua história e aprecio o património.
Antes de regressar ao Porto, tentam-me com um almoço digno da realeza. Wowwww… ‘Eles’ ainda não sabem, mas não precisam de tantos mimos para me seduzirem. Há muito que me rendi às peculiaridades identitárias da Beira Baixa.
Por estas terras desbravo sabores e desvendo histórias. Dizem que por aqui nasce o sol e a felicidade. Já vieram confirmar?
*** BORNFREEE viajou a convite de @BeiraBaixaPt ***
3 Comments
Tenho pena de ser uma região que ainda não explorei como deve ser.
Acredito que teremos mais oportunidades de voltar à região… 😉
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