Entre a Covilhã e o Fundão há um fantástico segredo de turismo rural que não merece ser mais guardado…
Poderiam dizer-me que, para que a experiência fosse realmente sublime, só faltava mesmo a música. (Ainda) Desconhecem que se há coisa que há de sobra na Quinta de Seves é boa melodia, a melhor banda sonora natural. Haverá orquestra que se compare a uma dirigida por encantadores rouxinóis? E quando a estes exímios executantes se juntam papa-figos, poupas, pintassilgos, melros, pardais. estorninhos, piscos…?
É embrenhado nestes pensamentos, tentando decifrar cada um dos artistas que me animam a manhã, que me delongo no faustoso pequeno-almoço, uma das imagens de marca de Seves. Estou sob a sombra de duas acolhedoras tramagueiras, que mudam de tonalidade com as estações do ano, e as faustosas opções gastronómicas espraiam-se pela velha porta de madeira entretanto transformada em criativa mesa.
Usufruo de dias soalheiros e despertei há pouco, com estimulantes vistas que ao fundo denunciam a imponência da Serra da Estrela e algum casario da Covilhã, a parcos sete quilómetros.
Abro a porta para o exterior, desço um andar para o pátio entre as duas casas de campo até encontrar a porta da minha felicidade, maravilhosamente submissa aos meus mais requintados desejos, em banquete difícil de esquecer.
Não sei se termine nos bolos caseiros ou nos pastéis de nata do mesmo forno. Depois de uma salada de iogurte salpicada por mirtilos, framboesas, morangos e nozes. Quem me conhece sabe que não resisto a enchidos caseiros. De bom grado me perco em outras iguarias da Beira, como queijos variados, compotas caseiras, pão acabado de fazer e sumos de fruta naturais…
“Se não é nosso, é de algum produtor vizinho. Privilegiamos os bons sabores da terra”, diz-me Maria João, que há cinco anos acarinhou a Quinta de Seves, provavelmente o mais estimulante destino da região para uns dias de regeneração. Perfeitamente integrado no mundo rural.
A natureza é seguramente um dos pontos fortes deste projeto familiar, que tem na minha tenaz e acolhedora interlocutora um rosto icónico. O marido é o companheiro de todos os sonhos e o filho José parece assumir a dificuldade em deixar este éden para se dedicar à arquitetura.
Cruzei-me com lebres, mas também poderia ter encontrado raposas ou javalis, que amiúde são avistados. A distância segura dos dois gigantes Serra da Estrela, os cães tão afamados e com os quais podemos conviver, se assim o desejarmos. Estou em plena ruralidade e tão perto da cidade, de uma Covilhã que nos brinda com arte de rua e nos prende à boa comida como no incontornável O Laranjinha.
Em altura de covid-19, que tudo tem mudado na economia, sobretudo no turismo, a Quinta de Seves apresenta condições ímpares para uns dias no mais envolvente e retemperador banho de natureza. Quando nasceu, este espaço já parecia antecipar que um dia haveria uma pandemia que obrigaria a ajustes, que aqui mal foram necessários, já que a privacidade é opção fácil de concretizar.
A sua piscina é notoriamente ampla para os sete quartos – três na casa principal, quatro no segundo edifício, que pode ser alugado por inteiro – e há área suficiente para que diferentes utilizadores tenham intimidade e distanciamento social nos diversos decks harmoniosamente assimilados pela paisagem, distribuídos pelo bem cuidado relvado que ladeia o tentador azul.
Toda a quinta tem vários pontos interessantes para nos refugiarmos em leitura. Até um velho moinho, a curta caminhada. Se a luxúria for um dos nossos pecados, até podemos ter por perto um bom copo dos vinhos Almeida Garrett que são propriedade da família: neste caso, descendentes do irmão do poeta.
Em Seves não falta amplitude panorâmica para ficarmos em paz no nosso canto, nem oportunidade para uma ótima conversa, assim seja o nosso desejo.
“Normalmente, chegam cá como clientes e saem como amigos. Adoramos receber e acredito que seremos bons nessa arte. Respeitamos quem pretende estar resguardado e estamos também prontos para as boas conversas a que este lugar convida”, diz-me Maria João. Se temos pressa, a sua família ajuda-nos. Se queremos saber mais, delongam-se. Adaptando-se com naturalidade ao registo que nos apetecer.
A minha anfitriã tem invejável apetência para a culinária – invariavelmente, privilegia os biológicos produtos locais, muitos deles da sua horta que dá gosto visitar – e os casais ou grupos que aqui pernoitam podem jantar na quinta. Na sala com paredes de granito, elementos rústicos e clássicos que nos transportam para outras épocas. O salão partilhado dispõe de uma lareira e de sofás. Nas redondezas há igualmente várias opções recomendáveis. E até poderá tentar deslocar-se numa das bicicletas BTT disponíveis.
A quinta teve distintas fases de evolução a partir do século XVI. Já teve uma queijaria, um ovil, vacaria e lojas para guardar cereais e palha. Tudo orientado pelo capataz. Contudo, estas histórias, que nos levam a viajar no tempo, são melhores de ouvir na primeira pessoa. Numa envolvente que nos acarinha e faz ser da família.
Para continuar a fazer-nos sentir (verdadeiramente) em casa, a Quinta de Seves “jamais” evoluirá para um hotel rural. Desejam manter o “cunho mais pessoal, o ambiente familiar”. E o stress bem longe deste belo projeto, ao qual muito me apraz voltar após explorar as pitorescas aldeias históricas da região – não me canso de regressar a Sortelha ou a Belmonte – e o Parque Natural da Serra da Estrela.
Estar cotado com 9.8 no Booking.com não é para todos. Saber receber é uma arte. Por isso recomendo que venham à Quinta de Seves experienciar as sensações da excelência!
BORNFREEE esteve duas noites a convite da Quinta de Seves
#EuFicoEmPortugal
One Comment
Não foi difícil convencer-me. Já quero ficar aqui também 🙂