XII – vento
és a casa dos pássaros.
és o não-chão. nem tremor nem homens nem calor. és o
aéreo que encandeia as nuvens e, num passo gémeo, as
conduz.
és sedução genuína nessa textura que usas no mar. os
pássaros te frequentam erráticos porque também és o
eco da poesia – a estranha densidade de nada pisar.
o não silencioso.
o silencioso.
és o deserto que chove sobre o mundo.
Ondjaki – NDALU de ALMEIDA
Nasceu em Luanda em 1977. Prosador. Às vezes poeta. Licenciou-se em Sociologia e é membro da União dos Escritores Angolanos.
Em 2000 recebeu uma menção honrosa no prémio António Jacinto (Angola) pelo livro de poesia Acto Sanguíneo.
Co-realizou um documentário sobre a cidade de Luanda (Oxalá Cresçam Pitangas – Histórias de Luanda).
Em 2013, com Os Transparentes, ganhou o Prémio José Saramago.
Ondjaki é uma palavra africana que significa guerreiro em umbundo (a língua de origem bantu é a mais falada em Angola).