Em Abala, as mulas estavam à nossa espera. Eram oito da manhã, o sol deslizava pelo desfiladeiro, descendo na nossa direcção. Atrás de nós, estendia-se a estrada que atravessa a planície desértica e abafada de Teerão, depois sobe um mar parado de colinas, onde percorre as dunas amarelas para chegar ao cimo do desfiladeiro, e daí desce a pique em curvas assustadoras até à ravina de Rudenhen. Duas horas de carro, mas agora estava tudo muito longe, agora tudo desaparecia – à nossa frente, um novo dia!
O nosso trajecto levou-nos primeiro por um vale estreito soterrado entre colinas. A vegetação nas margens do ribeiro parecia não caber no espaço que tinha e tocava nos campos das encostas como se transbordasse de um cesto. Havia um pomar de nogueiras, logo acima das videiras.
Depois começava o desfiladeiro. Vi Claude avançar à frente, o chapéu colonial descaído sobre a nuca. As mulas pisavam pacientemente o cascalho com os seus cascos pequenos. O desfiladeiro era muito alto, lá em cima apenas ventos e nuvens rápidas, e sobre a planície muito distante as nuvens dissolviam-se e não víamos mais do que um mar de céu e de terra desolada que se estreitavam num abraço sufocante.
Annemarie Schwarzenbach, Morte na Pérsia, Tinta-da-China