Na surpreendente Arábia Saudita, não há lugar tão vertiginoso e imponente quanto o Edge of the World.

O nome promete. A realidade, não defraudará as (mais elevadas) expectativas. Estamos num dos lugares mais emblemáticos da Arábia Saudita, o icónico Edge of the World (Jebel Fihrayn).
Trata-se de um vasto deserto abruptamente interrompido por ‘cliffs’, escarpas monstruosas com cerca de 400 metros que se erguem dramaticamente do solo, como que estabelecendo uma intransponível parede entre dois Mundos. E ameaçando romper o céu…
Estou no topo desta imensa massa rochosa. E a vista não pode ser mais impressionante. Sinto-me como que na proa de um navio, pena que os meus pés não possam avançar neste posto de comando por esse horizonte fora…

As vertigens não são mais fortes do que a curiosidade e, centímetro a centímetro, aproximo-me da falésia. Do seu limite mais arriscado. Aqui não há qualquer tipo de proteção. Qualquer erro, transformamo-nos em ‘hummus’, humano. O cascalho derrapa e é traiçoeiro. É entusiasmante esta dualidade de pensamentos, enfrentarmos as limitações que os nossos sentidos nos impõem.
Enquanto, ainda boquiaberto, fito a linha ténue que separa o céu da terra, sou brindado com um rodízio de queijos e ‘enchidos’, um saborosíssimo aperitivo para o manjar que aí vinha. A jornada promete…
Nuno é o ‘responsável’ pela ‘expedição’. Este expatriado em Riade não hesitou nos esforços para nos integrar e logo juntou uns quantos amigos para me trazer e ao Filipe do Alma de Viajante a uma das nossas prioridades na Arábia Saudita, que só há pouco mais de um mês se abriu, pela primeira vez, ao turismo.
Os últimos 20 quilómetros da jornada são por trilhos de empedrado seco e poeirento, que só um todo-o-terreno aguenta. Vislumbrarei dois automóveis ligeiros… os seus donos não parecem muito satisfeitos com a ousadia. De todo desnecessária.
Pelo caminho, camelos à solta, lembrando que por aqui passavam antigas caravanas. Em lugar onde já houve mar, indiciam os fósseis que se podem encontrar… No planalto inferior, rios secos são trilhos que ainda hoje pastores seguem, com os seus dromedários e gado caprino.

Enquanto vou apreciando e fotografando, Nuno, Jorge, Tânia, Gabriela, Sofia e Olga fazem equipa a adiantar o almoço. Várias entradas e um fogareiro que o vento ajuda a cuspir lume, que trata das espetadas, de cordeiro e de frango. O apetite, que não é pouco, é, ainda assim, insuficiente para devorar os mantimentos, em dose suficiente para responder a inesperada crise de sobrevivência.
Chegará a hora de regressar a Riade, contudo o fim da história tem tempo para chegar. Estamos na aldeia onde deixámos o nosso Sedan quando vários elementos de uma família vêm à rua para nos convidar para chá, café e tâmaras.
O mais surpreendente? As nossas amigas trajam à ocidental, uma com roupa desportiva ‘insinuante’, outra com os braços despidos até aos ombros… até há bem pouco tempo, provavelmente este hospitaleiro desafio poderia ser uma espécie de reprimenda. Nos últimos meses saiu uma normativa que dá total liberdade de indumentária às cidadãs estrangeiras.

A Arábia Saudita está a mudar e, garantem-me estes portugueses, muito mesmo, nomeadamente nos últimos três anos. Ainda assim, as mulheres locais ainda estão inibidas de conviver com homens, sobretudo estrangeiros. Há um grupo feminino da família que chega mais tarde, de carro. Em segundos, uma das jovens esgueira-se e chama pelas nossas novas amigas. Que de pronto se lhes juntam, em área reservada ao público feminino.
Dir-nos-ão que são de “rara beleza e muito bem cuidadas, no corpo e nas vestes”. Confesso que vislumbrei, por instantes, o rosto da mais ousada que as veio chamar. O seu perfil ficou-me na mente. Pelo menos ao nível estético, o único que lhe conheci, causou interessante impacto.
No lado dos homens, nada muda no semblante dos nossos anfitriões. À sexta-feira, o dia mais importante do islão, é tempo de reunir a família. Estamos no lar de um tio que faz questão de ter a casa sempre cheia. É um poeta e dedica-nos algumas palavras improvisadas, que o sobrinho tradutor tem alguma dificuldade em nos fazer entender. “É árabe antigo e poético”, justifica-se.

As três variedades de tâmaras são das melhores que já comi e, melhor, oriundas da quinta do próprio. O chá e o café continuam a brotar, como se de uma nascente inesgotável se tratasse.
Lamentam não termos chegado mais cedo, para o almoço, e a conversa tende em ‘pretender-nos’ já para o jantar. Seria bem estimulante, contudo temos obrigações. Esperam-nos em Riade e somos cumpridores dos nossos compromissos.

‘Compound’ é a palavra mágica para os imigrantes/expatriados mais qualificados, deslocados na Arábia Saudita para trabalhos habitualmente pagos de acordo com as expectativas mais exigentes. As vantagens? Múltiplas. Aqui as regras do país não se aplicam. São como repúblicas independentes.
São protegidos pelo exército – há anos houve atentados que fizeram abalar o país e a confiança dos estrangeiros na sua segurança – e entre as vastas paredes estamos no ocidente. Com todas as benesses que isso pressupõe, que ninguém julga. Será, talvez, tema para um próximo texto. Para já, Nuno, um brinde a ti (com o fantástico ‘Al Cabeços’) e aos teus amigos, que, a milhares de quilómetros da nossa pátria, nos fazem sentir verdadeiramente em CASA!!
8 Comments
Super interessante! Apetece visitar!!!
Obrigada pela partilha, Ruifreee!?
Claraaaaa… obrigado pelo teu feedback 🙂 Se gostaste deste, espero que os próximos te entusiasmem ainda mais 😉
Adorei as fotos, esse cenário desértico da Arábia Saudita me fascina 🙂 Suas histórias e viagens são ótimas para conhecer países de maneira profunda. Adorei o seu relato e obrigada por compartilhar com outros viajantes 🙂
Obrigado EU, Mariana.Ainda bem que estes lugares mais exóticos estimulam à leitura 🙂 Beijinho e ótimas viagens…
Oi Rui, nunca pensei em conhecer a Arábia Saudita, mas esse seu texto já me fez mudar de ideia. Que lugar lindo! Edge of the world rendeu belas fotos! Parabéns!
Mariana, este lugar é mesmo incrívellllll… justifica cruzar o globo 🙂 E ir conhecer outros belos lugares da Arábia Saudita.
Que viagem incrível! A Arábia Saudita está na minha lista de destinos há muito tempo, e agora com a abertura não vejo a hora de ir!
Marcela, aconselho a visita enquanto ainda não se vê turismo 🙂