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Pisão e Nariz do Mundo: trilho ‘virgem’ na Serra da Cabreira

Pisão e Nariz do Mundo: trilho ‘virgem’ na Serra da Cabreira

Horas de caminhada solitária em trilho de montanha de contrastes.

Gosto de ar puro, panorâmicas diversificadas e ruralidade saudável. Esta Cabreira tem tudo isso. É verdade que encerra alguma dificuldade nas constantes subidas e descidas ao longo de 11,5 quilómetros, mas no fim (ou quase) somos recompensados com um autêntico manjar. Para os não-vegetarianos. Obrigado ‘corisca’, por nos acompanhares do primeiro ao derradeiro metro desta aventura. Aí os lameiros de MeijoadelaA Serra da Cabreira tem muitos encantos e vários ‘moram’ neste inexplorado trilho…

São quase 11:00. O dia está soalheiro e sem vestígios de nuvens no horizonte. A viagem desde o Porto correu bem, tal como um segundo pequeno-almoço no centro de Cabeceiras de Basto. Estamos prontos para a aventura. Que começa com longa descida, que testa alguns músculos ‘desprevenidos’ face à ausência de treino. Logo aí, corisca, dócil cadela preta, nos mostra o caminho.

As vistas são realmente belas desde o Formigueiro, aldeia em que principia a ‘marcha’ que, descontando tempos ‘mortos’, incluindo faustoso almoço (já lá vamos) rondará as cinco horas.  Desde o alto deslizamos por entre ziguezagueantes paisagens até uma ruína na garganta da montanha, que logo a seguir alberga uma pequena queda de água e uma piscina natural. Diz o meu amigo Pedro Henriques (www.expiritodeviajante.com) que “até há cerca de 50 anos era aqui que se vinha pisoar (apertar) a lã e moer a farinha”, posteriormente transportada por burros. /http://www.espiritoviajante.com/trilho-pisao-nariz-mundo-serra-cabreira/trilho-do-pisao-e-nariz-do-mundo-moscoso/

A água é do mais cristalino e, com alguma imaginação e engenho, o espaço serve para piquenique e umas belas braçadas para uma dúzia de amigos. Estamos sós. Como estaremos em todo o trajeto. Incrédulos, mas esta cativante natureza é toda nossa.

O banho pode mesmo ser o maior bálsamo para a fase mais dura da caminhada, já que, posteriormente, a subida parece não ter fim. Mais de uma hora em constante subida, com mudanças de retratos e mergulho noutro tipo de pinceladas.

Felizmente, há uma sombra ou outra para descanso de circunstância. Há quem se sinta mais aflita. Fico para trás. Uma e outra vez. Até que chega a paisagem que mais gostamos. Que consegue o milagre de trazer o fôlego de volta. Estes tons da natureza revigoram qualquer um. Pacientemente, vamos recuperando caminho até que o grupo volta a ser um.

Passámos pelo Cabeceiras Parque Aventura, que recuperou antiga casa florestal, e 50 metros depois virámos à esquerda, iniciando nova descida em terrenos irregulares e agrestes, ainda assim sem dificuldades que exijam um cuidado redobrado.

O nariz do Mundo não tardará. É, efetivamente, um lugar especial, com uma vista soberba. Mais do que no nariz, sentimo-nos como que ao comando do planeta. As horas acumuladas de caminhadas enfatizam o prazer.

Regressamos 270 metros pelo mesmo caminho e voltaremos ao trilho que nos levará a uma ponte.  A Ribeira de Cavez. E uma ‘piscina’ um pouco maior do que a primeira. Incrédulo por continuarmos apenas nós em todo o cenário. Os pés vão agradecer-me. As suas queixas são apaziguadas. Abençoadas por cristalina água fresca, que reflete os raios de um sol que insiste em dar-nos o melhor do outono.

Mesmo alimentando o corpo com o habitual lanchinho – imprescindível, tal como água -, o estômago queixa-se de ser mal-tratado: a derradeira subida leva-nos à aldeia de Moscoso, onde nos ‘perdemos’ (no sentido gastronómico da palavra) no conhecido restaurante Nariz do Mundo.

Para não me delongar demasiado – até porque, dias depois, acredito que ainda não fiz a digestão de tudo quanto foi deglutido – apenas refiro que há cinco menus que vão desde os 12,50 aos 20 euros. Vinhos da casa, sobremesas, café e bagaço (daqueles que ‘corroem’ até ao tutano) à discrição, tal como a bela chanfana, grelhados, bacalhau, cabrito…

Os 45 minutos de regresso ao ponto de partida, nos quais nos cruzamos com gado barrosão e maronês, ajudam a combater a inevitável loucura gastronómica, a serenar o eventual álcool e a desfrutar mais belas vistas que convidam ao regresso no futuro…

PS: Corisca deixara-nos à porta do restaurante. Reencontramo-la no Formigueiro. Não é menos do que nós: mereceu o faustoso almoço.

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33 Comments

  1. Carla Mota

    Esta zona é muito gira! NO Nariz do mundo tem um restaurante… TOP! Agora fiquei com saudades dos meus tempos de montanheira em que andava por aí. 😀

    1. Rui Batista

      Carla, a ver tenho ‘tempo’ para explorar uns trilhos, que ando com saudades da natureza. Sim, foi mesmo nesse restaurante aonde me “perdi”… Bjks, boas viagens e até à apresentação do “filhote” em forma de livro 🙂

  2. Edson Amorina Junior

    Nós sempre adoramos fazer trilhas, agora um pouco menos por causa da filhota pequena, mas explorar esses caminhos, ainda mais se poucos conhecidos, é realmente maravilhoso.

    1. Rui Batista

      Edson, não tarda e é a filhota a puxar por vocês para os trilhos 🙂 Abraço e boas caminhadas!

  3. Gabriela Torrezani

    Belíssima opção para se conectar com a natureza próxima ao Porto… adorei viver essa experiência com você, trilha e belas vistas são tudo de bom!

    1. Rui Batista

      Obrigado, Gabriela. Felizmente, Portugal tem 10001 opções de trilhos para explorar, para todos os gostos. Este foi uma bela surpresa…

  4. Débora Resende

    Que lugar lindo! Não me aventuro muito em trilhas, mas amo me enfiar no meio da natureza, rs. Adorei o relato!

    1. Rui Batista

      Débora, nem imaginas a paz que podemos sentir um trilho destes… praticamente só nós e a natureza 🙂

  5. Lulu Freitas

    Gostei muito do relato, como sempre! O local me parece ser daqueles de esquecer da vida…

    1. Rui Batista

      Obrigado, Lulu. E é isso mesmo: o local faz-nos esquecer de tudo… uma das coisas boas das caminhadas 🙂

  6. Marcia Picorallo

    Adoro trilhas, especialmente em regiões montanhosas, com paisagem que se modifica a cada pouco. Se tiver chance de ver vida selvagem, então…

    1. Rui Batista

      Marcia, gostava da oportunidade de ver mais animais, mas o colorido e modificação das paisagens foram um estímulo soberbo…

  7. Bruna

    Que lugar maravilhoso, exatamente como gosto, um pouco de exercício pro corpo, ar puro pros pulmões e belas vistas para os olhos!

    1. Rui Batista

      Bruna, quase que ainda sinto todos os ossos 🙂 Mas valeu cada metro de esforço… adorei a experiência.

  8. Fabíola Moura

    Fazer trilhas é sempre uma uma descoberta pessoal dos nossos próprios limites. Em cada novo desafio nos conhecemos um pouco mais. E numa paisagem dessa, o percurso é ainda mais gratificante. Lindos registros.

    1. Rui Batista

      Acredita, Fabíola. E como nos podemos surpreender… gosto de testar os limites, a forma… e explorar novos recantos. Juntando tudo isso, ainda melhor 🙂

  9. Anna Luiza Santiago Magalhães

    Ah, eu também adoro respirar ar puro e apreciar paisagens lindas. Sem dúvida, esse lugar é muito propício para isso. Boa dica!

    1. Rui Batista

      Anna Luiza, e Cabeceiras de Basto tem muito mais… a serra da Cabreira é das mais belas que conheço.

  10. mariana antunes

    Que trilha demais, adoro ter esse contato com a natureza. É bem legal mesmo! Ótimo para dar um relaxada e respirar ar puro de verdade!

    1. Rui Batista

      Subscrevo na íntegra, Mariana 🙂 NADA como um bom banho de natureza…

  11. ADRIANA MAGALHAES ALVES DE MELO

    Que trilha mais poética a sua! Você consegue traduzir realmente todas as sensações da caminhada. Parabéns pelo texto

    1. Rui Batista

      Obrigado, Adriana. Temos a obrigação de nos sentirmos minimamente inspirados pela natureza 🙂

  12. Diego Cabraitz Arena

    Este texto me lembrou que estou a muito tempo sem fazer uma trilha! A experiencia é sempre boa né

    1. Rui Batista

      Sim, Diego, fantástica! Estará na altura de veres aonde andam as botas… 🙂

  13. Ruthia Portelinha

    O amigo Pedro é bom guia por essas terras. No Verão fizemos uma caminhada até ao Sistelo e também comemos muito bem, mas sem a simpática companhia canina de uma Corisca. E também deu contei da fraca forma físico 🙂

    1. Rui Batista

      O Amigo Pedro foi quem me sugeriu a caminhada… dali, dos bons Homens, vem sempre boa coisa 🙂 As paisagens ‘apuram’ a nossa forma… 🙂

  14. Bruno Miguel

    Sensacional! Temos curtido muito mais fazer trilhas assim ultimamente… Vamos anotar essa dica para quando estivermos pela região…

    1. Rui Batista

      Vale mesmo a pena, Bruno. Depois digam-me algo 🙂 Abraço!

  15. laura

    Nossa adorei seu blog.

    1. Rui Batista

      Muito obrigado, Laura 🙂 Espero que fique para ir explorando o Mundo comigo… Beijinho e boas viagens…

  16. Tharsila Fernanda Costa

    Deve ser tão incrível fazer uma trilha rodeado por belas paisagens e natureza pura. Gostei bastante do relato. 🙂

    1. Rui Batista

      Sim, esta caminhada é muito bela, Tharsília 🙂 Tens de vir a Portugal e ver por ti própria…

  17. Mariana Antunes

    Que interessante essa trilha, uma caminhada que dá gosto de fazer! A Serra da Cabreira é realmente um lugar especial.

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