A 20 e poucos minutos do Porto há um concelho à espera de ser explorado…

Inexplicavelmente, o sol nem sempre é valorizado em todos os seus momentos de esplendor. Debatemos e procuramos os mais emblemáticos pores-do-sol no Mundo, mas raramente nos empenhamos em descobrir quando o astro-rei exibe maior beleza quando nasce.
Saio do Porto ainda noite para explorar o Castro de Alvarelhos, Trofa, logo ao raiar do dia. Quero perceber as mutações da luz, sem saber ainda que serei brindado com um nascer do sol épico. Pela beleza das cores, pela singularidade da paisagem na serra de Santa Eufémia, pela forma mística como os raios atravessam as árvores que protegem este monumento nacional, desde 1910.
Exploro um sítio arqueológico que teve várias épocas de ocupação, desde os finais da Idade do Bronze à Idade Média, e imagino como era a vida agropastoril destes povos resilientes, com vista privilegiada para o fértil Vale da Ribeira da Aldeia. Quantos segredos aqui se encontram por revelar? Felizmente, há cuidada informação espalhada pelo complexo, o que nos ajuda a entendê-lo melhor.
Estou em paz, pois não há outras almas a perturbar o sossego da aurora de um dia por terras da Trofa. Um excelente lugar para um piquenique, porém não resisto à curiosidade de percorrer o Caminho de Santiago que deambula pela zona rural do concelho.
Caminhos de Santiago por explorar

A história desta peregrinação desde os tempos medievais leva-me a crer que este caminho era mais regular em tempos idos, quando a peregrinação era movida pela fé, mais do que pela ‘moda’. Enquanto centro espiritual por excelência, Braga captava muitos caminhantes – tal como Guimarães -, contudo agora são privilegiados os trajetos mais diretos, mais práticos.
Os 13,780 quilómetros do Caminho de Santiago assinalados, com início no Coronado (Largo de Trinaterra), onde descobri a incrível arte dos santeiros, e fim em S. Martinho de Bougado (junto à Ponte da Lagoncinha), revelam-nos uma grande diversidade de paisagem, natural e urbana. O percurso está assinalado e creio que estará para breve um centro de apoio ao peregrino, facto que, certamente, trará novos olhares para estas paragens.
Encontro capelas e igrejas, habitações rurais e palacetes, vários a piscar o olho à reabilitação que ajudará a valorizar a promoção do Património Cultural e Religioso que parece estar em curso na Trofa. Já vi painéis interpretativos e informativos, sinalética direcional e já li sobre desdobráveis bilingues e um carimbo atestará a passagem de peregrinos pelo Vale do Coronado.
Gastronomia surpreendente no Amma Parque
A Trofa também nos surpreende pela gastronomia…
Não sei quanto a vós, mas madrugar e caminhar são condimentos para aguçar o meu apetite. E é no centro da cidade que descubro o Amma Parque: em lugar privilegiado no coração da Trofa, no meio da natureza e com uma decoração extremamente apelativa. Ainda não sabia que o melhor estava para vir: atum mi-cuit braseado, risotto de marisco e ervilha de quebrar. Antes do pudim de pão com gelado de baunilha.
Por tudo o que vi – na minha e em outras mesas – fiquei verdadeiro fã do espaço. Bem como dos preços do delicioso menu de almoço (10 euros), sempre com duas opções de peixe e outras tantas de carne, bem como uma vegetariana (felizmente, os restaurantes começam a estar bem preparados para esta realidade crescente do vegetarianismo).
Pura arte na Igreja Matriz Santiago de Bougado
Nicolau Nasoni não se destacou apenas pelo seu génio na construção da Torre dos Clérigos, do Palácio do Freixo, da Casa-Museu Guerra Junqueiro ou do Palácio da Bonjoia, entre muitos outros. Na verdade, o artista, decorador e arquiteto italiano que desenvolveu grande parte da sua obra em Portugal – sobretudo no Porto – também foi o responsável por este belo empreendimento na Trofa, mandado erigir em 1754 e que, desde 1984, é Imóvel de Interesse Público.
Fui espreitar. Apesar de estar fechada – dizem-me que o pároco estuda música no Vaticano – há quem tenha a gentileza de ma abrir, disponibilizando-se para qualquer tipo de esclarecimento sobre esta obra barroca.
Subo à torre do sino… e é quando estou encostado ao gigante de metal que este começa a tocar (o meu telemóvel assinalava 12:04, pensei que os timings estavam ‘ajustados’). Valeu-me ter um coração de ferro. Tento resistir, mas os tímpanos imploram-me que desça, de uma vez por todas.
O interior é de nave única, bastante sóbria, como me apraz. Em contraste com a talha dourada de estilo rococó sempre presente no olhar dos fiéis durante as cerimónias religiosas. Registo o momento com fotografias para poder apreciar melhor alguns detalhes, como interessantes vitrais que aprecio com os olhos fixados no ‘céu’.
Entender a Trofa na antiga estação de comboios

A modernidade não chegou à Trofa somente na estação de comboios onde divergem as linhas de Guimarães e Braga. Também aconteceu com a antiga infraestrutura, agora entregue a exposição sobre o seu passado. É aqui que aprendemos como a Trofa foi crescendo…
Na verdade, o comboio moldou a Trofa e ditou as suas principais transformações. Ajudou à industrialização destas terras, abrindo-se múltiplas perspetivas de negócio que tinham como prioridade a proximidade da linha de ferro, que facilitava o escoamento das mercadorias.
A linha do Minho foi inaugurada no distante 1875 ajudando a que, somente nove anos mais tarde, a Trofa fosse elevada a vila. Tornou-se cidade em 1993 e a sua vitalidade económica levou-a a sede de concelho em 1998, numa atribulada separação de Santo Tirso.
Sem dúvida, neste espaço de exposição percebe-se como o caminho-de-ferro faz parte do património e da identidade cultural de várias gerações dos trofenses.
Depois de um dia intenso a visitar os Santeiros de São Mamede e São Romão do Coronado, experiência que aconselho, em boa hora completei este roteiro pela Trofa, destino ainda muito virgem em termos de exploração turística.
Voltarei, com tempo, para continuar a explorar a gastronomia, bem como o famoso Parque das Azenhas.
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Esta jornada foi realizada a convite da autarquia da Trofa.